Empregos e a liberdade dos trabalhadores


As transições econômicas para o socialismo feitas até agora, apesar de todos os seus sucessos, têm começado por um caminho errado, tanto do ponto de vista econômico quando do ponto de vista político. A primeira coisa que os trabalhadores precisam fazer assim que puderem é se libertarem, e com o domínio do Estado isso se faz com uma só medida, que é também do ponto de vista econômico uma necessidade – dar empregos com salários mínimos (podendo variar um pouco com especialização) para todos os que quiserem trabalhar! Não se trata de uma medida puramente emergencial, como já se fez no passado, nem muito menos se trata de “gerar empregos”. O que deve ser feito é empregar mesmo, diretamente, criando uma massa de milhões de empregados estatais (diferentes dos funcionários públicos concursados, que devem continuar existindo, e crescer em número e salários) com os quais o Estado poderá fazer o que for mais necessário.

Comecemos citando o único problema da proposta, exagerado pelos monetaristas, passageiro, e que pode ser contornado – geraria uma inflação nos primeiros tempos. Mas logo, ao crescer o consumo, cresceria a produção e os preços se estabilizariam. A despeito disso, seria um preço baixo, porque os pontos positivos são vários.

1 – Liberdade! Tendo garantia de um emprego de um salário mínimo nenhum trabalhador é escravo. Acabaram-se abusos, acabou-se o medo do desemprego, acabou-se o chicote da burguesia. A burguesia ficaria sem seu exército de reserva de mão de obra. Depois que se percebe isso é impressionante como os marxistas não têm dado prioridade a esse assunto, incrível ler estatísticas, mesmo que pequenas de desemprego em países ditos socialistas.

2 - Dignidade! Nada mais humilhante que o desemprego.

3 – Libera a tecnologia dos problemas sociais. Hoje tecnologia é sinônimo de desemprego, amedronta os trabalhadores. Com garantia de emprego, a tecnologia deixa de colocar medo, pode se desenvolver sem adversários.

4 – Redução da violência. É nítido que as altas de desemprego geram altas de violência. A existência pura e simples de gente desocupada nas ruas gera violência. As justificativas psicológicas, ideológicas etc. para a criminalidade desapareceriam!

5 – Da mesma forma a mendicância e a prostituição se reduziriam.  Com a garantia de um emprego de um salário mínimo, só mendiga e se prostitui quem quiser.

6 –A burguesia perderia sua tropa de sempre – o lupen proletariado, os miseráveis sem princípios que seguem quem os paga. O Estado tomaria esse exército de seus inimigos, o que poderia impossibilitar a reação burguesa.

7 – Seria possível conter o êxodo rural ou até invertê-lo, uma vez que não faria diferença para o Estado o local em que trabalharia o empregado estatal.

8 – Aumentariam os salários do setor privado, porque para manter empregados os patrões teriam que oferecer mais dinheiro e melhores condições que o Estado, que passaria, dessa forma, a regular os direitos trabalhistas muito melhor do que com leis.

9 – Trabalhadores por conta própria teriam a concorrência reduzida, e a demanda aumentada, ganhando mais. A economia se aqueceria como um todo.

10 – O Estado teria trabalhadores para fazer o que quisesse.

Posso adivinhar a pergunta dos simplórios – De onde vai vir o dinheiro? Só existem duas opções!

A – Melhor – Emitir dinheiro! É absoluta mentira que emitir dinheiro gera verdadeira inflação. Gera, sim, desvalorização monetária, muito abaixo do que é emitido. Emitir dinheiro para esse fim é uma forma de distribuir riqueza, que atinge ricos e pobres por igual. Trata-se portanto, de uma concessão, interessada, porque é melhor para a economia como um todo. A desvalorizção monetária pode significar inflação na prática para os trabalhadores, porque recebem e compram antes que os preços se ajustem. O que gera inflação de verdade é a produção crescer mais lentamente do que o universo de compradores, com incidências diferentes para diferentes produtos.

B – Fazer os ricos pagarem, à moda ateniense. Na democracia de Atenas, quando era necessário fazer algum gasto público, a Assembleia dos cidadãos fazia a lista dos cidadãos mais ricos, e os intimava a pagarem os gastos. Portanto nada mais democrático! Em um país como o nosso, em que os ricos não pagam impostos nem pelos seus iates, não falta dinheiro, falta vergonha na cara.

Somente depois de empregar todos os trabalhadores desempregados (que quiserem empregos) é que faz sentido confiscar meios de produção. Os meios de produção só são necessários quando há trabalhadores para usá-los!

Além disso, primeiro deve-se tomar os meios de produção que estiverem parados. Os meios de produção que já estão produzindo, ótimo! Uma máquina não produz mais nem menos, não emprega mais nem menos trabalhadores, se estiver sob propriedade estatal ou particular. Contudo, particulares não podem operar eternamente com máquinas velhas, posto que seus custos, daí seus preços, deixam de ser competitivos. O Estado pode, porque já estará mesmo pagando os salários.

A princípio o Estado deve empregar todos os que quiserem emprego nem que seja para varrer ruas. Então deve começar a otimizar o trabalho desse exército econômico, direcionando-o para o que for mais necessário, mas também utilizando suas capacitações. Deve ser um processo lento, em que os meios de produção parados podem ser muito úteis em um primeiro momento.

O Estado deve indenizar, em moeda nacional, os capitalistas pelo que confiscar (a não ser que sejam sabotadores). Pode não ser justo, mas economicamente é positivo. Eles aqueceriam a economia, ou bem comprando, ou bem investindo. Se entesourassem ou saíssem do país, pouco mal fariam.

Retirado da burguesia seu exército de reserva de mão de obra o capitalismo estará ferido de morte, mas não se deve deixar de dar importância a dois outros assunto, que se entrelaçam com este:

1 – A questão militar! Muitas vezes a força bruta já inverteu correlações de força! No passado existiram o que os historiadores chamam de camponeses-soldados, que foram a base das democracias gregas do mundo antigo. A robotização da economia exige reduzir constantemente a jornada de trabalho. Uma forma de ocupar o tempo dos trabalhadores é lhes transformando em soldados de meio expediente.

2 – A economia socialista mesmo deve ser construída com grandes empreendimentos, com estatais fortes, atuando em larga escala, recrutando por concurso os melhores trabalhadores, em sentido oposto, portanto, do que devem ser os trabalhadores estatais.

Comentários

Calculando os desempregados atuais em 30 milhões, essa medida custaria 30 bilhões por mês. As renúncias fiscais de 2018 somaram 280 bilhões. Ou seja, não é um dinheiro impossível. É o que se dá aos ricos sem efeito positivo nenhum.
AF Sturt Silva disse…
Duvido se isso aconteceria:

"8 – Aumentariam os salários do setor privado, porque para manter empregados os patrões teriam que oferecer mais dinheiro e melhores condições que o Estado, que passaria, dessa forma, a regular os direitos trabalhistas muito melhor do que com leis."
Uai, mas isso é uma obviedade! Se você nega isso, nega o marxismo em um ponto muito simples - a burguesia precisa de um exército reserva de mão de obra para manter os salários baixos. Logo - se os desempregados somem os salários sobem.