A divisão da Ucrânia em dois países, o crescimento da tensão mundial e a imprensa “brasileira”


A imprensa ocidental é uma máquina de guerra, pautada não pela Casa Branca, mas pelo Pentágono. É necessário recorrer à imprensa russa, cubana e de outros países para se ter uma idéia real do que acontece no mundo. Os mídia “brasileiros” (não, não são brasileiros de verdade, só atuam aqui, como uma tropa estrangeira) atuam em conjunto com toda a imprensa ocidental, uníssona, atuando em conjunto com os serviços de inteligência da OTAN que dirigem os fascistas da Ucrânia ocidental. O que acontece na Ucrânia, guardadas as devidas proporções, é semelhante ao que acontece na Síria, com a diferença que os grupos instigados pelos ocidentais são fanáticos religiosos na Síria e fascistas na Ucrânia. Nos dois casos as potências ocidentais tentam retirar países importantes da órbita de influencia russa.

Já escrevemos muito sobre a Síria, e já informamos que se tratava de uma guerra civil quando quase todo mundo o desconhecia. Na Síria quase teve início uma guerra mundial, impedida pela firmeza russa e pela fraqueza das potências ocidentais. Um diplomata russo chegou a dizer, “atacar Damasco é atacar Moscou”. Hoje, a guerra caminha para o fim, com as tropas do governo, com decidido apoio do Irã e da Rússia, avançando para as regiões dominadas pelos rebeldes.

Agora é a Ucrânia que está à beira de uma guerra civil. O que acontece na Ucrânia não é a luta entre oposição e governo, e a luta entre populações que sempre foram divididas. A maioria dos Ucranianos, sobretudo no leste, fala russo, é praticamente russa, elegeu esse o governo atual há poucos meses. A parte ocidental é influenciada pela Alemanha, sempre foi. Na Segunda Grande Guerra os ucranianos ocidentais em grande número apoiaram os alemães, os receberam como libertadores, engrossaram suas tropas. Já os ucranianos orientais não receberam os alemães nada bem, recuaram para a Rússia quanto essa foi a estratégia soviética, e combateram até o fim.

Caso raro na Europa, na Ucrânia é o oriente que é rico, e o ocidente pobre. A parte pró-russa, rica, defende a criação de uma federação como única forma que manter a Ucrânia unida, e o atual governo foi eleito com esse programa (não é a toa que seu partido é o Partido das Regiões). A parte pró-ocidental, pobre, não quer a federação. Na parte russa o Partido Comunista organizou milícias para manter a ordem, já na parte ocidental são os fascistas que tomaram as ruas ao lado do resto da direita. O país está muito mais dividido do que politicamente!

Em resumo, a instigação ocidental, como no caso sírio, é irracional, simples desespero de potências que decaem. A parte que se levanta contra o governo da Ucrânia, ocidental, é a parte pobre e minoritária, e quer forçar a parte rica e majoritária a aceitar desvincular-se de seus parentes Russos, que fornecem gás natural barato, para tornar-se colônia alemã. Enquanto em toda a Europa crescem os movimentos para sair da União Européia, a direita ucraniana quer entrar! Não é só a direita brasileira que tentar recolonizar o Brasil...

A parte oriental oferece a federação como alternativa aos ocidentais, que assim poderiam aumentar seus vínculos com a União Européia sem comprometerem a Ucrânia inteira, mas como a federação significaria que o oriente guardaria mais de seus recursos para si, sobraria menos para ajudar a parte ocidental. O que os ocidentais querem é a Ucrânia inteira, com a parte russa submissa às restritivas regras alemãs. Se os russos ucranianos estivessem sozinhos isso já seria difícil. No oriente da Ucrânia existe até mesmo uma região que reivindica ser anexada à Rússia, e cujos governantes já informaram que não aceitarão o poder dos fascistas se o governo de Kiev cair. Contudo, os ucranianos contam com a ajuda russa. A Geórgia, também ex-república soviética, já experimentou o resultado de atacar duas cidades da Geórgia que reivindicam serem russas. A União Européia, em caso de guerra, não poderá ajudar seus aliados, pois depende dos gás natural que recebe da Rússia, que portanto venceria a guerra fechando torneiras. Os EUA não poderiam fazer nada sem seus maiores aliados.

Portanto, o que a direita ucraniana com sua política de anexação à União Européia (leia-se Alemanhã) pode conseguir é o que menos deseja, ser separada da parte rica da Ucrânia. Em caso de guerra, é o que se configura, pois a divisão entre a parte ocidental e oriental é tão profunda que não faria sentido manter um só país, pois seria sempre uma parte oprimindo a outra, com os ódios ainda aumentados pela guerra.  Não se descarta seque a hipótese de, nesse caso, a parte oriental resolver reunir-se à mãe Rússia, o que seria o pior dos fracassos para o Ocidente.

Enquanto isso, as tensões mundiais continuam enormes. Nem a solução da crise síria, nem o que quer que seja que aconteça na Ucrânia tendem a reduzir essa tensão, pois elas não partem desses países, mas das potências grandes e intermediárias. A situação atual lembra as vésperas da Primeira Grande Guerra, quando as necessidades econômicas das potências se chocavam, sobretudo porque o desenvolvimento das potências é desigual e descontínuo, ou seja, potências grandes que crescem pouco e ainda têm muito domínio sobre o mundo disputando com potências novas, que crescem rápido mas ainda não têm a parcela do mundo que julgam que, pela sua economia, têm o direito de ter. A diferença é que a ação em 1914 partiu das potências emergentes, que queriam tomar o mundo do controle inglês e francês, enquanto hoje são os decadentes que tentam, desastradamente, retomar espaço perdido.

Os EUA têm diante de si a questão da sua existência enquanto potência mundial. O grande continente, em que existem mais recursos, não é a América, mas a Eurásia, que ainda tem nas suas proximidades a África e a Oceania. Portanto, não desistem de se estabelecerem com aliados e tropas no coração da Ásia. Se desistirem, terão desistido do mundo para serem uma potência regional. Portanto os EUA se posicionam como potência estrangeira tentando o tempo todo ocupar a Ásia com tropas, dinheiro, armas, instigando toda uma diversidade de agrupamentos, partidos e reinos inteiros. É o motor da guerra! A decadência ainda não inviabilizou a máquina de guerra estadunidense, que pelo contrário parece disposta a tentar reverter a decadência à força.

A China cresce assustadoramente, é naturalmente rica e tem uma população gigantesca. A China está precisando se expandir, está tomando mercados consumidores e fornecedores de matérias primas. Alguns autores falam de uma conquista chinesa da África, e hoje um terço do comércio brasileiro é com a China, sobretudo comprando da China industrializados e vendendo matérias primas. A política chinesa não parece agressiva, e com os países parceiros é muito melhor do que o Ocidente jamais ofereceu. Política silenciosa e seguindo as regras comerciais, não desperta a atenção do mundo, nem protestos, mas toma ao Ocidente matérias primas baratas e mercados consumidores. Foi o Ocidente que instigou a China a se incorporar à economia de mercado, e agora não pode empurrá-la de volta ao isolamento. Dentro da China os maoístas (a quem apoio) são fortes e dispostos a voltarem ao poder, e se o Ocidente precisar fechar as portas à China, estará dando a eles a chance que desejam. A reserva de dólares sob controle chinês é também uma arma formidável, pois se liberada faria despencar o preço do dólar.

A Rússia, com uma população só um pouco maior que a brasileira, não tem grandes interesses expansionistas, contentando-se com resistir às agressões estrangeiras que visam lhe retirar aliados e até pedaços, e que a cerca de mísseis de guerra. Depois que reestatizou os onze setores mais importantes da economia, a Rússia voltou a crescer, conseguiu renovar seu complexo militar, e com imensas riquezas naturais, é uma potência mundial, sem grande influencia capitalista, mas temível. A natureza das coisas está favorecendo a Rússia e mantendo a firmeza de seus aliados, para desespero do Ocidente.

A aliança entre Rússia e China é hoje mais forte do que quando a Rússia ainda era soviética, pois os inimigos deles agora são comuns. Detalhe que não se deve esquecer – só a Rússia e a China estão, no momento, com capacidade de enviar pessoas ao espaço. Há anos os astronautas dos EUA estão viajando em foguetes russo. Uma guerra mundial hoje talvez se resolvesse só no espaço, sem grandes operações em terra, mar e ar, pois quem tomasse o monopólio do espaço tornaria obsoletas todas as armas em terra.

A Alemanha parece que não aprendeu nada com as duas guerras que perdeu no século XX. Conseguiu, enfim, anexar a Europa, sem dar um tiro, mas por inabilidade política conseguiu criar na Europa toda fortes movimentos exigindo a saída do bloco. Agora, outra vez, está enfrentando a Rússia. Claro, a primeira vez foi a tragédia, agora é a comédia! O desespero alemão é estar nas mãos da Rússia, uma vez que precisa de seu gás, e todas as suas recentes peripécias na Síria e na Ucrânia são uma tentativa de arranjar outro caminho para o gás. Acontece que é essa mesma dependência que impede o sucesso alemão. A Alemanha está gerando tensão que não pode agüentar, e se, mesmo sem guerra e sem fechar as torneiras, Moscou resolver responder na mesma moeda, ou seja, instigar na Europa o movimento anti-euro, anti-alemanha, anti-União Européia, pobre Alemanha!

Aguçando tensões, entram em cena as potências regionais, com destaque para a guerra não declarada entre Irã e Arábia Saudita, que assume a forma de luta entre chias e sunas. Israel também contribui muito para a tensão mundial, mesmo porque teme a estabilidade e unidade no mundo árabe. A Turquia, por sua vez, está tentando entrar na disputa pelo mundo árabe, que já dominou militarmente no passado. Não fossem as manifestações de 2013 e talvez a Turquia tivesse atacado a Síria, e ninguém sabe quais seriam as consequências pois Moscou sempre desejou dominar o estreito do Bósforo e essa seria uma boa dsculpa. Ao longe sempre podem surgir outros protagonistas, sobretudo aproveitando-se de uma guerra que concentre as atenções. É o caso da Austrália, que ultimamente tem revelado pretensões.

A América Latina nunca passaria incólume a um conflito mundial, mas por enquanto é a parte mais distante das tensões no velho mundo. O poderio brasileiro tem crescido diplomaticamente. Hoje, um terço do comércio brasileiro é com o Mercosul, e pode-se dizer que o Brasil é mais beneficiário do Mercosul que a Alemanha da União Européia. Porém, não existe em nenhum país do Mercosul nenhum movimento pedindo a saída do mesmo. Pelo contrário, vários países querem entrar e não há neles nenhuma resistência a isso, a não ser de partidos de direita, que tomam essa posição mais por bizarrices ideológicas que por interesses reais. A diferença é simples. Por aqui mantivemos cada país sua moeda, enquanto por lá todos adotaram o euro. O euro foi um sucesso inicial e enfraqueceu o dólar, mas ao contrário dos EUA, que imprimem dólares mais rápido que todas as suas metralhadoras do mundo cospem balas, a Alemanha caiu na esparrela monetarista, e não quer imprimir euros demais para não os desvalorizar! Resultado, crises econômicas, a impossibilidade dos países membros imprimirem dinheiro para pagar suas contas  e daí crises políticas, manifestações, o movimento anti-União Européia, e daí o resultado que não se queria – a desvalorização do euro... Insanidade pura e simples da Alemanha, pois a grande vantagem da criação do Euro era exatamente ser uma moeda internacional, ou seja, sua desvalorização geraria inflação no mundo todo, não só na UE. É inacreditável como hoje, século XXI, governantes ainda possam se guiar por crenças do século XVIII, como o liberalismo econômico.

O que divide a América Latina não é o Mercosul, nem a Unasul, são as elites atrasadas e medrosas que, a exemplo da direita ucraniana, querem submeter seus países a potências estrangeiras. Essas elites são subalternas, mais que isso, são o modelo mundial de submissão e subserviência. O momento atual é o melhor para ilustrar isso.

Acontece na Venezuela mais uma tentativa de contra-revolução no mesmo momento em que a Alemanha tenta anexar a Ucrânia. Não vou debater aqui as fraquezas da Revolução Bolivariana, porque não é o assunto e já escrevi a respeito em outros artigos. O que assusta é como esses dois eventos paralelos revelam quem é que realmente dirige a imprensa “brasileira”. Obviamente, para os capitalistas brasileiros a sorte da Ucrânia pouco importa. Se ficará com a Rússia, com a Alemanha ou no inferno, para os capitalistas brasileiros alterará poucos centavos. Já o caso venezuelano é o calo que dói na burguesia brasileira! O ódio das elites brasileiras contra a Revolução é tanto que mentem sem vergonha, chamando o falecido Hugo Chávez, que em uma década e meia de poder não fuzilou ninguém, não prendeu nenhum adversário político (a meu ver um banana) de ditador.

Contudo, no momento, a pauta da imprensa “brasileira” é a Ucrânia! O plano irresponsável alemão de anexar a Ucrânia é mais importante para essa imprensa do que lutar contra a revolução socialista que acontece logo no país vizinho. Em resumo, os capitalistas brasileiros não controlam sequer a imprensa capitalista instalada no Brasil.

Comentários

sapopular disse…
Texto interessante. Mas não concordo com a sua avaliação sobre a Alemanha, achei um tanto injusta.

A França e a Alemanha desenharam o Bloco Euro de um jeito. Mas ele é “adaptado” para caber nos interesses Americano e Inglês.
Você não pode se esquecer que a Alemanha AINDA É UM PAIS OCUPADO, pelos Estados Unidos (assim como Japão e Coreia do Sul), e mesmo que esses tenham interesses próprios, eles ficam em segundo plano quando entram em conflito com algum interesse americano/inglês.

Os Estados Unidos/Inglaterra usam a zona do Euro para expandir a OTAN. Expandem a OTAN para o mais próximo possível das fronteiras Russas para colocar tropas e misseis. Além é claro de cobrar o “dizimo” de 2% do Pib de cada novo candidato para os gastos com segurança (aumentando assim o orçamento da OTAN).

Por isso a zona do euro parece um Frankstein, e começa a atrair países problemáticos que eram da esfera soviéticas, que tem pouco a oferecer (e criam muitos problemas), tais como migração desemfreada e desemprego. Prejudicando os Paises que tinham um interesse apenas comercial.
O fato da Alemanha ter, desesperadamente, aceitado o Nord stream é que ela não confia nem nos países Balticos, nem na polonia, nem na ucrania para ser intermediários do gás.

Ela Sabe que os países bálticos e a polonia estão sendo armados pra serem cães de guarda da OTAN (interesse americano/inglês) justamente pra impedir o projeto Eurasiano e o caminho da seda que China/Russia tem interesse em consolidar. Os únicos países que perdem com esse projeto eurasiano são justamente Inglaterra e EUA, pois são potencias navais que controlam as rotas marítimas.

EUA e Inglaterra não confiam na Alemanha. Quer provas? Não permitem que ela entre no Conselho de Segurança como membro permanente. E não a incluem no sistema geopolítico de espionagem eletrônica dos EUA conhecido por “Five Eyes” (Cinco Olhos), é um clube de espionagem anglofônico que envolve EUA, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

A Alemanha pleiteou entrada nesse seleto grupo, afinal ela tem sido uma “aliada” desde a 2ª guerra. Foi negado a entrada e os anglos ainda grampeiam as autoridades alemãs e meta-dados alemães.

A Alemanha adota uma politica publica responsável, e não gasta mais do que arrecada. Ela não pode usar o Euro como os EUA usam o dólar pois o Euro depende de produção de verdade para dar lastro. Ao contrario do Dolar que mesmo o governo americano não tendo condição econômicas de bancar, eles usam a força militar pra impor um lastro com petróleo de seus aliados-satélites.