
Não é a toa que a imprensa capitalista tenta ligar a morte
do cinegrafista durante a guerra campal entre a polícia e os Black Bloc aos
partidos de esquerda. Para se tentar uma mágica dessas, quando todos sabem que
as relações entre os partidos da frente de esquerda e os Black Bloc têm sido o
tempo todo de mútua desconfiança (embora de solidariedade contra a repressão),
é porque se deseja muito bater nesses partidos!
Embora seja um fato que até os partidos da frente de
esquerda perderam em Junho, visto que os partidos em geral foram hostilizados,
a verdade é que não perderam nem um só militante, e ganharam alguns, e nas
últimas manifestações tinham se unido e afastado assim a ameaça fascista que
hoje se sabe que em partes era paga (políticos de direita contrataram torcidas
organizadas para atacarem militantes de esquerda). Já o PT perdeu tanto que
teve que fugir das ruas já no início das manifestações, e a direita tradicional
também perdeu, e no final também se retirou das manifestações. Hoje, embora o
descontentamento e a vontade de mudança sejam apontados por todas as pesquisas,
os candidatos da direita tradicional não crescem, por mais que estejam se
disfarçando sob bandeiras vermelhas, e se as eleições fossem hoje, apesar de
todo descontentamento, Dilma estaria reeleita.
O que explica esse aparente contrassenso? Naturalmente é a
inexistência, entre os candidatos fortes, de algum que agrade aos eleitores,
que assim preferem agüentar mais quatro anos de Dilma. Os candidatos fortes, ou
seja, abençoados pela grande imprensa estrangeira que ocupa o país, são todos
de direita, crentes no liberalismo econômico, falam em piorar a vida das
pessoas, como se elas não entendessem que “ajuste de contas”, “austeridade”,
“reduzir o déficit” significa - salários congelados, menos empregos, hospitais
e postos de saúde sem médicos, escolas em greve, serviços de qualidade
decadente e impostos mais altos.
O medo de que a esquerda verdadeira, socialista e
revolucionária, rompa o bloqueio da mídia por conta própria e desponte como uma
nova força política inescondível, com perdão do neologismo se é que é
neologismo, é tanto, que se dão ao trabalho de acabarem de arrastar no chão sua
credibilidade para citarem o nome de partidos da frente de esquerda em um
episódio que nada tem com eles. Nós que estamos há anos tentando costurar a
frente só podemos rir de tanto medo, quando mal conseguimos nos unificar (em
2010 não conseguimos).
Esse medo se deve ao espaço vago a que já nos referimos, em
que a população quer mudanças mas vota na continuação. A direita teme, como em
Junho, não se beneficiar das perdas petistas. Ao criminalizarem os Black Bloc,
que não engoliam e porque precisavam de um bode expiatório para criminalizar
manifestações em geral, abriram ainda mais o espaço para os partidos
revolucionários, até empurrando jovens Black Blocs para partidos de esquerda.
Como também sabe fazer essa conta básica, a direita fica histérica.
Para o medo dos dirigentes estrangeiros das grandes TVs
“brasileiras” se tornar realidade a esquerda tem que saber trabalhar, unida
para somar recursos, sem esquisitisses, com um programa claro, simples e
exeqüível. Deve perder a timidez e lançar chapas completas de deputados, e
fazer campanha para valer. Não é hora da conversa fiada antieleitoral, uma
chuva de obviedades, um monte de verdades gerais que nada tem a ver com nossa
luta política específica. A verdade geral é que a democracia burguesa é uma
ditadura do dinheiro e não nos levará ao socialismo, que precisamos de outro
Estado, com um desenho completamente diferente deste que temos, para que o
conteúdo de classes seja proletário. Mas daí alguns gênios concluem que nossas
lutas eleitorais são inúteis e fadadas ao fracasso. Estão errados, primeiro
porque as eleições continuam sendo ótimos termômetros de nossas forças, como
Engels já sabia no XIX, e no momento é vergonhoso que na maioria dos entes da
federação não exista sequer um deputado federal dos partidos revolucionários.
Isso não se deve ao conteúdo de classes do Estado burguês, mas a nossa própria
naniquice e falta de política eficiente, uma alimentando a outra, sobretudo a
última gerando a primeira. O erro geral de nossa tática é que nosso sistema de
comunicação é terrível, não temos nenhum diário, nem online, nenhuma rádio, não
produzimos quase vídeo nenhum. Para ressuscitar a esquerda revolucionária tem
que sair da clandestinade, porque os milicos já voltaram para os quartéis há 30
anos.
Comentários