Na realidade política brasileira atual é necessário permitir candidaturas sem partido, para organizar o sistema partidário. Nosso sistema partidário tem vários defeitos, que seriam resolvidos ou minimizados pela liberação de candidaturas sem partido: Os partidos são muito numerosos; Os partidos têm verdadeiros donos, uma oligarquia não eleita que os controla, monopolizando os canais de participação popular; Os partidos são só siglas, sem conteúdo certo, sem programa que seja levado a sério – em cada partido existem pessoas de ideologias não só diferentes, mas opostas, de forma que o eleitor não sabe no que está votando.
Por que os partidos são numerosos? Porque para se candidatar é obrigatório ser lançado por um partido, e os políticos que por variados motivos não o conseguem, criam novos partidos dos quais eles mesmos são os donos. Permitir candidaturas sem partido limitaria essa multiplicação de partidos e até faria desaparecer vários dos que existem só com a função eleitoral.
Por que existem pessoas completamente opostas dentro dos partidos? Gente de direita em partidos de esquerda? Gente que nem sabe o que o nome do partido significa? Pelo mesmo motivo – é obrigatório ter partido. Nas vésperas de cada eleição, as direções partidárias estaduais, que decidem sobre as filiações e criações de diretórios municipais, são assediadas por ofertas ilegais e imorais, de pessoas que querem ter aquela sigla. Até os partidos mais à esquerda são infestados por esses invasores. As candidaturas sem partido reduziriam esse assédio e essas infiltrações.
Não se pode culpar a obrigatoriedade de ter partido para ser candidato pelos partidos serem dominados por “donos”, que formam uma oligarquia não eleita, que domina esses canais de participação popular e os fecha. Mas certamente as candidaturas sem partido enfraqueceriam essa oligarquia corrupta. Ademais, se sabemos que o canal partidário é praticamente fechado, é democrático permitir que as pessoas participem sem passar por ele.
Há quem considere que permitir candidaturas sem partido é estimular a desorganização, o individualismo, e que a obrigatoriedade gera organização. Estão errados. Se for permitida a candidatura sem partido só restarão os partidos de verdade, e ficarão mais fortes, livres de um monte de parasitas. A obrigatoriedade não reduz o individualismo, só empurra os individualistas para dentro dos partidos, onde eles dão exemplos de egoísmo e carreirismo que corrompem os demais militantes.
Acreditar que a obrigatoriedade de ter partido para se candidatar é um fator de organização social é uma utopia, do tipo paternalista/autoritário. Nunca deu certo. Todos percebem que nossa sociedade, incluindo os partidos, está é se desorganizando. Organização forçada não é organização social do tipo que precisamos. Não educa, não é de verdade, não dá frutos. A maior parte dessas siglas que se multiplicam ano a ano não existe fora dos períodos eleitorais, não tem nenhuma atividade, nenhuma reunião. Essa farsa não organiza o povo.
É verdade que a existência do fundo partidário é um novo chamariz para bandidos infiltrarem-se nos partidos, reduzindo bastante os efeitos de liberar candidaturas sem partido, mas continua sendo correto encerrar a obrigatoriedade.
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