Meu posicionamento pessoal a respeito de uma intervenção militar

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Há alguns meses tenho contido meu desejo de levantar a bandeira: “Constituinte sob proteção das Forças Armadas”, para evitar possíveis danos políticos ao meu Partido. Há alguns dias, contudo, divulguei a declaração do general Mourão, e manifestei meu apoio, de forma que se tornou necessário entrar de vez no assunto. Desde já fica claro que minha opinião é diametralmente oposta à de quase todos os militantes do Partido Comunista.

Para entender meu posicionamento é necessário entender minha análise da atual realidade, destacadamente para 5 pontos:

1 – a sexta República entrou em sua crise terminal desde 2013, e salvá-la, se não é impossível, é quase, e seria necessário reformá-la tanto que já não seria a sexta República.

2 – a sétima República não será socialista, porque o proletariado está completamente desorganizado, não manda nem nos próprios Sindicatos, portanto não tem como mandar no país.

3 – a crise da sexta República está custando muito caro ao país, e é bom que ela se acelere, mas a incapacidade dos poderes públicos para resolverem os problemas é manifesta.

4 – as Forças Armadas não têm condições, nem planos, de permanecerem no poder. Mas certamente são as únicas forças preparadas para manterem a unidade nacional durante a crise de transição de regimes políticos.

5 – “Os homens fazem a história, mas não a fazem segundo sua livre vontade”, e a sétima República não será o que um general quiser, mas o que quiser a opinião publica.

Desde 2013, como se nota em vários artigos do São João Del Pueblo e do Estudos Vermelhos, percebi que se iniciara a fase final da sexta República. De lá para cá vários analistas têm chegado à mesma conclusão, na medida em que os sintomas se tornam suficientes para a percepção deles. A completa incapacidade dos legisladores para fazerem qualquer reforma significativa, mesmo quando a direita tem mais de 70% do Congresso Nacional, e aprova até PECs absurdas, medidas impopulares e inúteis, prejudiciais mesmo ao país, é impressionante! Essa incapacidade agrava a crise política.

Infelizmente, não ganharemos o socialismo como pagamento por sofrer essa crise. Não é que o capitalismo no Brasil não esteja suficientemente desenvolvido, nem que existam reformas democráticas ou nacionalistas a serem feitas previamente. Até existem muitas reformas democráticas e nacionalistas a serem feitas, mas elas tendem a se confundir com a Revolução socialista, quando chegar a hora. O problema é menos glorioso – o proletariado está completamente desorganizado e despolitizado, por culpa, é claro, das “vanguardas”, que não o são, por incapacidade. Essas pretensas vanguardas culpam a conjuntura, a queda da URSS (que aconteceu no século passado), o desemprego etc., por sua incapacidade de lidar com esses problemas, ou mesmo por sua inatividade, por sua preguiça, por seu comodismo, e em casos piores, por terem se corrompido e serem mesmo a raiz da desorganização do proletariado, na medida em que parasitaram seus sindicatos.

Contudo, como também é público, a crise política está custando caro à nação, pois os bandidos que estão agarrados ao poder para não perderem o fórum privilegiado, estão de pernas abertas para as potências estrangeiras, onde podem inclusive vir a pedir asilo. Que essa crise demore muito a se resolver, que avance lentamente, só interessa a quem está com medo da justiça comum.

O que podemos ter? A solução da crise pela reforma das partes políticas da Constituição, ou seja, pela reforma do designer do poder. Será um poder proletário, socialista? Não, pelos motivos acima indicados. O que será? Será o que na opinião pública for mais forte.

Os generais podem derrubar a sexta República, que vai cair mesmo ou dessa forma ou de outra, mas não podem impor o que será a sétima República. Ninguém pode! Quando cai um regime e se inicia outro, não são os algozes do regime caído que decidem o que será o próximo, quase nunca. Sempre se inicia uma fase, de alguns anos, de profundos debates políticos, e então se desenvolve a força política/social que realmente forja o novo regime. Então para que esperar? Para que a nação deve sofrer mais alguns anos de decadência desse regime fracassado? A nação terá mesmo que passar pela fase de mudança de regime, então que comece logo!

As críticas ao meu apoio ao general Mourão foram todas no sentido de que em 1964 os militares se apegaram ao poder, apesar de terem dito que não o fariam. E eu acredito em discursos? Eu estaria chegando a minhas conclusões pelo conteúdo do que disse esse ou aquele general? Em 1964 só um completo idiota acreditaria que os militares não queriam o poder, visto que eles vinham tentando – deram um golpe em Getúlio em 1945; deram outro, que o levou à morte, em 1954; tentaram um golpe em 1955 contra JK; tentaram outro golpe em 1962 contra Jango e finalmente conseguiram em 1964. Mais ainda, eles tinham projetos para o país, que justificavam manter o poder, e hoje eles não têm projetos.

Muitas das críticas são sobre o que foi a ditadura militar, sobre suas atrocidades. Sim, a ditadura cometeu atrocidades, completamente inúteis, e foi um dos motivos pelos quais fracassou. É mentira que a ditadura só matou guerrilheiros. A ditadura matou gente pacata, intelectuais, desde o primeiro dia. Mas o que isso tem a ver com 2017? Os militarem que hoje servem, os que hoje já estão se aposentando, ainda não eram militares quando a ditadura acabou. Eles não tem nada a ver com o que aconteceu entre 1964 e 1985.

Em 2017 a situação é completamente diferente, no Brasil e no mundo! Digam o que disserem os generais, mas se eles derrubarem a “ladrocracia” precisarão de uma nova Constituição, e cada artigo dessa nova Constituição será discutido na Internet.

Suponhamos que eu esteja errado e eles queiram ficar no poder, e tentem impor uma Constituição menos democrática que a atual. Ai eles fracassarão, e depois que caírem teremos uma Constituinte da era da Internet. Observa-se esse fenômeno na história do Brasil e do mundo – Constituições que duram poucos anos, porque não correspondem aos ditames da opinião pública da época. Acontecem exatamente em períodos de transição.

O que os comunistas devem fazer em caso de golpe militar? Devem preservar seus militantes, em alguns casos retirando-os do país; Devem organizar a resistência, se ela for necessária, de fora do país; Devem evitar confrontos armados, e devem lutar por cada vírgula de cada artigo da nova Constituição de que o país precisa.

Se os comunistas devem fazer oposição ou não ao regime que se instalar? Depende do que esse regime fizer.

Comentários

O artigo 142 da Constituição diz que o emprego das Forças Armadas para garantir a lei, a ordem e os poderes constituídos, não pode ocorrer por iniciativa própria, mas só a pedido de um dos poderes.