segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O fracasso da Primavera Árabe: Argelinização e envolvimento mundial


É notório que o processo revolucionário inicialmente conhecido como Primavera Árabe reduziu-se a guerras civis e contrarrevolução. Será que ainda se pode falar de uma guerra civil especificamente síria? A mesma guerra, opondo grupos radicais sunas (que a imprensa brasileira chama de sunitas, acrescentando um “ita” que lembra “ista”, que significa “tudo”, “total”, portanto “exagerado”) a governos laicos, ou seja, onde existe liberdade religiosa ou de não ter religião e nos quais regras religiosas não são impostas como leis anacrônicas, e a governos chias (que a imprensa “brasileira” inventou de chamar de chiitas, acrescentando o mesmo “ita” certamente depreciativo), já acontece no Líbano e no Iraque. Aliás, um dos grupos sunas denomina-se Estado Islâmico do Iraque e Levante, o que inclui toda a região desde a fronteira com os persas (iranianos) até o mar Mediterrâneo, fazendo fronteira no sul com o deserto e no norte com os turcos, ou seja, engolindo até Israel! Na Líbia a guerra civil continua, embora agora invertida, com as forças republicanas ao sul e os fanáticos no litoral, brigando entre si, inclusive. O Egito se argelinizou e a Argélia continua na mesma guerra civil de baixa intensidade há duas décadas. A Arábia Saudita e os emirados mais ricos têm escapado da onda gastando muito dinheiro dentro e fora de seus países, e enviar jovens para lutarem na Líbia e na Síria não deixa de ser também uma forma de afastar jovens possivelmente turbulentos, uma válvula de escape social e econômica. Já os satélites pobres da Arábia Saudita têm tido problemas, chegando à guerra civil. O Irã tem escapado de problemas maiores em seu território. Pode-se alegar que o Irã não é árabe, mas os paquistaneses também não são, são indianos, e os afegãos também não são árabes, e no entanto são palco do conflito. A diferença é que no Irã a hegemonia chia é bem maior, e o Irã está, assim como a Argélia, treinado por décadas de enfrentamentos com as maiores potências da Terra, além de ser uma potência econômica regional. O envolvimento do Irã é apoiando seus aliados no campo de batalha, destacadamente o governo da Síria, os chias no Iraque e no Líbano, pois para sua própria segurança não pode perder esses aliados. Fora do mundo islâmico os EUA, a Europa, a China e a Rússia estão também cada dia mais envolvidas nos conflitos. EUA e seus rabos europeus financiando e armando os grupos fundamentalistas sunas, China e Rússia sendo elas próprias, com destaque para a Rússia, atacadas pelos fundamentalistas! A Rússia já ameaçou reagir atacando a Arábia Saudita, a quem acusa de financiar o terrorismo. Só essa informação basta para entender a dimensão que a coisa está tomando. O objetivo desse artigo é compreender porque fracassou a Primavera Árabe.