Democracia liberal não serve para o mundo árabe

O golpe palaciano do presidente egípcio, recém eleito, membro da Irmandade Muçulmana, com a finalidade de concentrar poderes, é um bom exemplo das dificuldades que o mundo árabe terá que superar para se livrar de ditaduras. Se reiniciaram os choques de rua, agora não mais entre civis e militares, contra uma ditadura militar, mas entre um partido religioso e forças democráticas, tentando evitar uma ditadura religiosa. Os egípcios temem ter derrubado uma ditadura militar para dar lugar a uma ditadura religiosa.

O tipo de "democracia" adotado, o mesmo que não funciona em lugar nenhum, piorou as coisas, pois é naturalmente concentrador e personificador de poderes. Mursi foi extremamente fortalecido por vencer eleições nacionais, e acabou de tomar posse, de forma que se for derrubado os partidos religiosos dirão que sofreram um golpe, e se os militares apoiarem a oposição, se dirá que aconteceu um golpe militar. O conflito continuaria, com o perigo de se tornar mais sangrento.


Contudo, que não se tenha dúvidas, a ideia de um golpe militar está ganhando apoio, mesmo porque os militares não saíram enfraquecidos das eleições presidenciais, pois o seu candidato ficou quase empatado com Mursi. Não seria uma novidade no mundo árabe, mas somente uma repetição da tragédia argelina, onde a vitória da Frente de Salvação Islâmica foi respondida com um golpe militar que iniciou o pior tipo de guerra civil possível - suja, demorada e subterrânea.

A chance de um golpe militar é sempre grande diante de partidos religiosos quando esses partidos resolvem impor como leis do estado as suas leis religiosas. Toda a população que não é tão fanática religiosa se sente então atraída por um golpe militar que institua um regime que ao menos abra mão das leis mais intoleráveis.

Em um quadro desses, em que os partidos religiosos são fortes, uma "democracia" que concentra poderes, seja presidencialista ou parlamentarista, tende a fracassar mais rápido que o normal. Os comunistas árabes precisam buscar em suas tradições, com destaque para Al Corão, uma forma original de democracia, que dilua o uso do fanatismo religioso como arma política.

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