A revolução não é um golpe militar

Quando o partido brasileiro se formou e lutou pela independência (1820-1831), seus objetivos já estavam traçados, em um trabalho que se estendeu por boa parte do século precedente, o XVIII, ou das luzes. Quando a República foi proclamada, em 1889, já se sabia como seriam suas instituições mil vezes traçadas nos jornais republicanos desde 1871 e mesmo antes. Os debates da Constituinte de 1891 não trouxeram grandes novidades, foram conclusivos, e rápidos. Quando os "tenentes" se levantaram em 1922, 1924 e finalmente vitoriosos com o apoio de parte das oligarquias em 1930, suas bandeiras, entre as quais despontava o voto secreto, eram já disseminadas entre as classes médias das grandes cidades, tanto que sem um organização nacional de cunho ideológico, eles levantaram praticamente as mesmas bandeiras em levantes separados no espaço e no tempo.

Um revolução é gestada, é construída, não é uma quartelada, não é um golpe de Estado. Quem quer trabalhar a sério para fazer a revolução socialista no Brasil junte-se ao seguinte trabalho:

Precisamos construir outro Estado, em projeto, propondo suas formas, e na prática, tomando trincheiras inimigas e instituindo nossas leis, dentro, por que não, da lei deles, que no entanto é contra nós. O mais que vamos ganhar com essas escaramuças é dar o exemplo, é mostrar como é na prática o Estado que criaremos, antes que retomem por um método ou outro o terreno perdido. Mas o exemplo é a melhor pedagogia.

Alguns camaradas, carentes de autonomia intelectual, não conseguem se adaptar à realidade, ficam presos à revoluções dos outros, esperando que um dia nossa realidade se torne semelhante à deles para que possamos imitá-los. Isso nunca acontecerá. Temos que atuar dentro de nossa realidade, que é essa democracia capitalista com as regras de 1988.

A partir dela, para infelicidade dos capitalistas, podemos propor não as regras necessárias aos bolcheviques, ou aos cubanos, ou aos chineses, em difíceis realidades, mas as regras ideais de uma democracia do povo trabalhador. Se quisermos, podemos escrever uma Constituição e publicar. Não digo que devemos, mas podemos.

Também as eleições podem ser usadas nesse trabalho revolucionário. Aliás, o partido brasileiro se formou nas eleições de 1820, convocadas pela Revolução do Porto, e depois aproveitou bem cada eleição para chegar à independência política. Também o Partido Republicano soube usar as eleições para se divulgar e desmoralizar a monarquia. E para não deixar de fora os "tenentes", a eleição presidencial de 1930 foi essencial para a revolução do mesmo ano, mas não se pode esquecer que uma campanha presidencial de 1910 já armou, de certa forma por caminhos opostos, os ânimos e as mentes dos futuros insurgentes.

Portanto, o que um Partido Comunista deve fazer em uma eleição é o mesmo que ele sempre deve fazer - a revolução!

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