Coxinhaço: O último bloco do carnaval 2015


A Constituição de 1988 continua dando passos para o abismo, mas o passo do dia 15 foi para mim uma surpresa, e aposto que poucos realmente entenderam seus significados. Normal, pois se a aparência e a realidade fossem a mesma coisa não haveria diferença nenhuma entre um pintor de flores e um botânico. Junho de 2013, por exemplo, só agora começa a ser compreendido por diversos “analistas” e “pensadores”, que só agora começam a notar que o regime de 88 está fazendo água, processo que se iniciou em Junho de 2013. Alguns, portanto, nunca chegarão a compreender os idos de Março de 2015, que por certo é um momento menor.


A princípio seria uma manifestação oposicionista, pedindo o impedimento da presidente da República. Tendo as eleições menos de 6 meses, esse ato previsivelmente mantinha o clima eleitoral, como o fez. Sendo assim, o primeiro efeito do ato do dia 15 foi gerar um ato anterior, no dia 13, favorável ao governo. As TVs tentaram mostrar um ato do dia 13 pequeno e o do dia 15 imenso, mas a internet hoje existe para desmentir toda a mentirada natural das TVs abertas. Fato é que os dois atos foram parecidos em tamanho, e outro fato é que ambos foram pequenos, apesar das TVs falarem nos maiores atos desde as Diretas Já, o que é uma dupla mentira, pois assim insinuaram que Junho de 2013 foi menor que as Diretas, o que é mentira óbvia por todas as fotos. O coxinhaço não se comparou nem ao Fora Collor, que por sua vez foi menor que as Diretas e muito menor que Junho. Mas para as máquinas de mentir querem apagar Junho da memória! Em São João Del Rei, por exemplo, onde Aécio ganhou já no primeiro turno com 53% dos votos, o ato de 15 de Março não foi maior do que a média que os estudantes levam todos os anos para as ruas por conta de aumentos de passagens de ônibus e outras bandeiras meramente econômicas. Já o ato de Junho de 2013 foi o maior da história de São João Del Rei, seguido de longe pelos Gritos dos Excluídos organizados pela igreja, pela manifestação que um encontro de historiadores fez pela liberação dos documentos da ditadura e punição dos torturadores, e por dezenas de atos menores que ainda assim foram três vezes maiores que o do dia 15.

Em resumo, o coxinhaço, antes de acontecer, já gerou apoio ao governo. Um governo que acabou de distribuir maldades, traindo todas as suas promessas de campanha e fazendo exatamente o programa dos adversários, acaba de receber apoio de massas nas ruas! Recebeu apoio de pessoas que não gostam de quase nenhuma de suas políticas, e muitas das quais estarão em greves e protestos contra esse mesmo governo nos próximos meses. Por que? Porque a parte burra da direita fez o papel que o Pt desejava que ela fizesse, correspondendo exatamente ao bicho papão pintado pela propaganda petista. Saiu às ruas fantasiada de bicho papão fascista e esqueceu de avisar que era um bloco de carnaval.

A lógica das eleições se manteve em tudo. O PT fez de tudo para impedir Marina de ser candidata, e depois para impedi-la de chegar ao segundo turno, porque queria, no segundo turno, um candidato que representasse melhor  o monstro que pinta para seus eleitores. Levar o PSDB para o segundo turno foi a vitória do PT. O coxinhaço manteve essa situação fictícia, manteve vivo o fantasma do retrocesso tucano, do qual o PT se sustenta desde 2002. Claro que não imaginamos nenhum planejamento petista, nenhuma conspiração. Simplesmente uma parte da direita é realmente retardada, pois ainda pensa, fala e age como o velho "partido português" do início do século XIX, e assim como entregou a vitória ao PT ao levar Aécio ao segundo turno, agora o blindou, em seu pior momento do ponto de vista econômico, com essas manifestações hilárias.

Na verdade, o PT estaria mais blindado se as manifestações não fossem tão ridículas, pois todos os que assistiram Harry Potter (rsrsrsrs) sabem que um bicho papão perde seu poder quando rimos dele. O coxinhaço foi o bloco de carnaval mais engraçado do ano! A internet o mostrou de sobra: Pedidos de ditadura; Combate à corrupção usando o símbolo da CBF; Pedidos aos EUA para atacarem o Brasil, escritos em inglês errado; Bandeiras separatistas; Bandeiras monarquistas; Bandeiras dos EUA; Violência contra pessoas que usavam roupas vermelhas; Confissões em entrevistas de que nem sabiam o que faziam ali; Ausência quase total de negros em um país em que no mínimo metade da população é de cor; Presença de torturadores; Presença de corruptos; Faixas com a suástica; A famosa faixa contra Paulo Freire, que talvez tenha sido a mais engraçada; Homofobia e outras formas de machismo; Fanatismo religioso etc.

As pessoas que não têm medo de bicho papão e têm acesso à internet (quem só vê TV fica sem saber de nada) riram o Domingo inteiro! Eis o passo que se deu dia 15 para o fim desse regime – um de seus verdadeiros partidos, o velho “partido português”, o partido recolonizador, cometeu suicídio público. Marcou outra manifestação, que foi menor, porque a do dia 15 foi muito ridícula e afastou um monte de gente. E ai a blindagem petista começou a ir para o ralo!

Um partido, estejamos falando das siglas que existem oficiais no Brasil ou dos partidos verdadeiros, pode se auto destruir com certa facilidade. No caso do partido recolonizador, sempre precisou de discrição para existir. Nunca aceitou o nome merecido de “partido português”, tentando se confundir o tempo todo com os patriotas. Sempre que ousou mostrar sua verdadeira face anti-nacional, foi isolado e sofreu forte derrota, quando em 1831, surtou e atacou os brasileiros que andavam nas ruas com as cores nacionais, foi fragorosamente derrotado, perdendo o trono e vendo seu chefe, Pedro I, fugir em um navio inglês. Agora, a única coisa certa que os recolonizadores fizeram foi tomar para eles as cores nacionais, e isso por erro da esquerda brasileira, que estupidamente usa pouco esses símbolos. De resto, o “partido português” confessou tudo o que sempre acusamos nele. Ademais, quando um partido vai a campo e não conquista nada, desmobiliza-se.

Manter essa direita caricatural nas ruas é vital para o PT, que conta para isso com um aliado de ocasião em Aécio da Cunha Neves, que perdeu as eleições em sua própria base, Minas Gerais, e ainda perdeu o governo estadual, uma incrível máquina. Por que seria ele então o candidato tucano em 2018? Por que os tucanos paulistas, fortes, ricos e vitoriosos em seu próprio estado, manteriam um candidato perdedor e sem recursos? Só se ele conseguir se manter como líder natural da oposição, a qual para isso tem que existir. Em outras palavras, manter a falsa polarização entre PT e PSDB é vital para o primeiro partido e para a carreira política do candidato tucano derrotado em 2014. Sem essa polarização, ambos se desmancham!

Claro, essa farsa não pode durar para sempre. Já está fazendo água, nesse início do segundo mandato de Dilma como nunca antes. O PT está se desmascarando, caindo em desgraça completa perante seu próprio eleitorado, e junto com o PT cai a constituição de 1988, a qual ironicamente o PT se recusou a assinar. O PT era a reserva moral do regime de 1988, e por isso seu fim deve ser o fim desse regime. Engraçado é ver as classes dominantes, beneficiárias desse regime, e mesmo seus mais proeminentes chefes políticos, contribuindo para esse fim. A única explicação fácil para isso é a fábula de Êsopo sobre o escorpião e a tartaruga atravessando o rio, a qual diversas classes dominantes sempre representaram diversas vezes na história.

Natural também que os protagonistas políticos possam adiar ou apressar a queda do regime. Uma reforma política que dê ao povo sensação de mudança pode adiar a queda. Por outro lado, uma reforma política ou um golpe parlamentar de direita que concentre ainda mais poder nos políticos (sinônimo de corruptos para todo o nosso povo) e nos partidos grandes e portanto esturricados na opinião pública, deve apressar a queda. O Congresso atual parece ser incapaz de adiar a queda do regime, e muito capaz de apressá-la. Por fim, nem cheguei a acrescentar nessas observações dois fatores que têm se tornado mais presentes dia a dia nos últimos meses - os problemas econômicos mundiais e a luta de classes.

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