Marx e a robótica - Capitalismo fracassando confessamente

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Marx disse que um modo de produção só é substituído por outro quando deu tudo o que tinha para dar, permitiu o desenvolvimento das forças produtivas tudo o que pode, e se estagnou, ou mais precisamente, começou a conter as forças produtivas. Por esse ponto de vista, de Marx, todas as revoluções socialistas do século XX estavam destinadas à derrota por serem adiantadas em excesso. O capitalismo ainda permitiu uma terceira revolução industrial - o tempo dos computadores e do inicio da robótica.

No momento atual, contudo, quando observamos com cuidado tanto as políticas econômicas, quanto os discursos econômicos, no Brasil e no mundo, parece que os limites do capitalismo estão chegando.
Antes observemos que do ponto de vista das forças produtivas, da tecnologia, todo o potencial dos computadores e dos robôs está longe de ser utilizado. Noventa por cento do que chamamos de robôs ainda são só braços mecânicos. Ainda servem somente para uma função cada robô, e ainda são lentos. Podem ir muito além disso. Mas o capitalismo não pode! As taxas de lucro já são muito baixas, e o que os robôs fazem é aumentá-las para as primeiras indústrias que os utilizam, nos primeiros meses ou anos, mas depois reduzi-las para todo mundo permanentemente.

Para que o leitor entenda vamos supor que a tecnologia cresça até o dono não precisar de nenhum trabalhador, e suponhamos que o mercado pudesse sobreviver assim (Os consumidores viriam do mesmo planeta dos que imaginam isso). O primeiro industrial sem trabalhadores ficaria rico. Quando a tecnologia se espalhasse a concorrência abaixaria os preços, como sempre o faz, até quase o custo de produção. O custo de produção seria só matérias primas, energia etc. e a mão-de-obra estaria reduzida à do dono. Mão-de-obra também tem um custo de produção, que é o custo de vida. Sendo assim os robôs reduziriam os próprios capitalistas a operários qualificados, pois para não terem mesmo nenhum trabalhador teriam que ser o único mecânico dessa fábrica fictícia, e acabariam reduzindo seus preços até o limite dos custos de produção, e seus lucros ao seu custo de vida.

Não, o capitalismo não vai acabar naturalmente, não será derrubado pelos robôs! Muito antes dessa fábrica sem operários, as fábricas com crescente número de robôs significam taxas de lucros decrescentes, no caminho do lucro quase nenhum da fábrica fictícia. Ou seja, para sobreviver o capitalismo terá que tentar barrar o desenvolvimento das forças produtivas. Difícil saber se os agentes dessa tentativa o farão de forma consciente. O provável é que, com sempre, seja de forma ideológica, semi-consciente. Tentarão barras o desenvolvimento das forças produtivas, mas acreditando que é em defesa ou da religião, ou para evitar a inflação, ou por motivos ambientais, ou mesmo trabalhistas. Isso tudo já foi dito por Marx, que não esperava que o capitalismo desse tanto. Explicou sem esse exemplo absurdo, mas com números, e chamou de Tendência Constante à Queda da Taxa Média dos Lucros. Ele só não conhecia a palavra “robô”, mas compreendia que a forças produtivas continuariam se desenvolvendo, e que existiriam máquinas que fariam todo o trabalho repetitivo, libertando a humanidade. Seria a base econômica para uma sociedade sem classes e sem Estado. Sabia que muito antes disso o capitalismo teria problemas com o desenvolvimento das forças produtivas, e precisaria barrá-las.

É claro, os robôs agravam o desemprego, e desemprego não é só um problema social, mas econômico, pois o desemprego reduz o consumo. Racionalmente o desemprego é de fácil solução, com a progressiva redução da jornada de trabalho até sua extinção. Já o capitalismo, para nascer e para continuar existindo, precisa de um exército de desempregados, de reserva de mão-de-obra, para derrubar os salários. Porém o desemprego exagerado multiplica a criminalidade e gera outros problemas. A população desempregada pode tornar-se também difícil de controlar, um fator de desordem. Em seus sonhos mórbidos os defensores do capitalismo imaginam que podem se livrar do excesso de miseráveis pelo extermínio. Primeiro que isso só resolveria o problema social, não o econômico. Segundo, que se estudassem os campos de concentração nazistas, onde se empregaram as tecnologias todas que se podia para se matar em massa, de forma muito mais barata e mais rápida que rajadas de metralhadora, saberiam que apesar de gastarem meses a fio na tentativa de matarem todos os seus prisioneiros, não o conseguiram! O desenvolvimento da medicina e das tecnologias de produção de alimentos ainda reduziram as duas coisas que realmente matavam os pobres no passado – as doenças e a fome. Mas se não podem viver sem desemprego, nem matar a sobra de desempregados, porque os capitalistas não reduzem a jornada de trabalho só o suficiente para manter índices de desemprego social e economicamente toleráveis? Porque as reduções da jornada de trabalho reduzem as sempre pressionadas taxas de lucro.

Voltemos às políticas econômicas e discursos econômicos atuais. Com raras exceções, no mundo todo, o que os capitalistas dizem, políticos e emissoras de TV, pode ser traduzido por – “a vida precisa piorar para não quebrarmos.” Em todo canto se fala em cortes de direitos trabalhistas, e em dificultar e postergar as aposentadorias, além de reduzir os vencimentos dos aposentados. Seria uma necessidade vital! A mais completa confissão de fracasso! Em um mundo em que um trabalhador produz mais do que dez trabalhadores produziam há um século, e se produz seis vezes mais alimentos do que o necessário para alimentar a humanidade, os governantes não conseguem evitar a decadência das condições de vida!?!? Do Brasil à França, embora o mundo viva uma superprodução, se toma medidas recessivas!?!? O capitalismo há algumas décadas era um regime de sonhos, de expectativas quase mágicas, de que logo viveríamos nas estrelas servidos por robôs! Atualmente é o regime do pesadelo, da insegurança, em que se coloca em xeque todas as estabilidades, em que as pessoas perdem a esperança de conseguir emprego e de um dia se aposentarem, e os robôs são temidos como exterminadores dos empregos e portanto da vida.

Observemos a prática no caso brasileiro. Foram testados aqui as duas receitas capitalistas, a promessa de um capitalismo bonzinho nos 14 anos petistas, e agora o capitalismo descarado, cumprindo seu programa contra a vontade do povo.

Mesmo os opositores afirmavam que o período de Lula era o ápice de nossa economia nas últimas décadas. A comparação com Dilma e Temer fortaleceram essa imagem. Pois bem, o que tínhamos? Para 200 milhões de habitantes chegamos a 50 milhões de empregos. O país continuou se desindustrializando, a educação continuou decaindo, o sistema de saúde precisou e precisa contar com ajuda de milhares de médicos estrangeiros, nossas forças armadas continuam desarmadas, os pequenos produtores continuaram sendo expulsos do campo e hoje precisamos importar alimentos, continuamos sem malha ferroviária etc. Isso foi o auge! Foi o capitalismo bonzinho, com um índice de 50 mil mortes por arma de fogo ao ano, e mais dezenas de milhares de mortes em nossas estradas assassinas. O capitalismo bonzinho em que quase todos os trabalhadores ganham o salário mínimo e perdem horas por dia sofrendo dentro de ônibus e com medo da crescente violência.

Agora temos a outra receita, do fanatismo liberal, que já foi aplicada por Dilma e continua sendo aplicada por Temer. Contra a vontade do povo, políticos que não representam ninguém estão cometendo crimes contra a economia. Com mais de 70% do Congresso Nacional, podem fazer o que quiserem, e o que têm a dar é isso. Resmungam pela flexibilização dos direitos trabalhistas há décadas, e agora conseguiram. Dizem que destravaria a economia, mas na verdade arrochará os salários, reduzindo as vendas em todo o mercado. A reforma contra as aposentadorias é completamente recessiva, pois contribui para aumentar o desemprego e retira dinheiro de circulação. A receita liberal é irracional, nos leva à falência, ou à falência do que restou depois de 30 anos disso.

O que nosso povo precisa, ao contrário do que tem sido feito, é de aumento da produção e desenvolvimento das forças produtivas, duas coisas diferentes mas que se retroalimentam.

O aumento da produção é o que precisamos para nossa economia ir bem, para termos mais empregos, para termos mais saúde e educação, para vencermos a miséria, em resumo, para os indicativos econômicos e sociais melhorarem. O único agente capaz de aumentar a produção é o governo, tanto investindo diretamente, reestatizando, criando estatais, quanto fazendo grandes encomendas. O argumento de que falta dinheiro é falso, ilusório, de quem imagina que o dinheiro é uma coisa mágica, com valor em si. Divisas, ou seja, dinheiro estrangeiro e metais preciosos, as reservas internacionais, realmente são limitadas. Mas não é preciso gastar divisas para aumentar a produção nacional, pois já não somos dependentes de petróleo, nem de nada que não possamos substituir ou prescindir. A moeda nacional é hoje completamente separada do ouro ou de qualquer divisa! É uma mercadoria, produzida pela União. Ou melhor, para todos os agentes econômicos é uma mercadoria produzida pelo governo, mas para o governo é um instrumento de política econômica. A emissão de moeda só é inflacionária se for acima do crescimento da produção, de forma que emitir moeda para fazer encomendas ou para investir diretamente na produção é capaz de valorizar a moeda. O que falta aos nossos governantes para fazerem isso se é tão óbvio? Soberania. Por que lhes falta soberania? Dois motivos, o capital que domina o Brasil não é nacional, e nossas elites nunca ultrapassaram a visão de mundo colonial e escravocrata. Nossos governantes querem somente garantir o máximo do orçamento da União para os banqueiros estrangeiros, assim como os vice-reis tentavam enviar o máximo de ouro para a Europa.

Desenvolvimento da forças produtivas é uma das poucas coisas que melhoram a vida das pessoas! Quando os preços caem é graças ao desenvolvimento da tecnologia e da indústria. Qualquer leigo pode constatar que as vezes cai o preço de uma mercadoria, como aconteceu com o frango na época de FHC, enquanto outras até sobem de preço. Foi algum desenvolvimento tecnológico, nesse caso das granjas, dos químicos, da genética etc. Também a saúde pública dá saltos de qualidade por conta de desenvolvimentos tecnológicos. A longo prazo, é o desenvolvimento das forças produtivas que propicia sociedades mais justas. Felizmente, nem os seguidos cortes de verbas para pesquisas vão brecar o desenvolvimento das forças produtivas. Em nossos dias, poucas coisas seriam tão revolucionárias quanto um WeakLeaks da ciência, que “recuperasse” conhecimentos científicos monopolizados pelas potências econômicas e os disponibiliza-se para a humanidade. Não interessam armas, interessam tecnologias produtivas. Toda ciência está do nosso lado!


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